O filhote de Arapaçu
No dia 23 de novembro o estudante Gabriel do 5º ano, conseguiu tirar da boca de seu cachorro um filhote de passarinho que caiu do ninho. A mãe do Gabriel, Andriele pede ajuda para a professora Ângela pelo WhatsApp. Através desse aplicativo de comunicação, a professora Ângela me avisa do ocorrido, compartilhando o contato da Andriele. Assim, consegui conversar com a mãe do Gabriel pelo áudio do aplicativo. Ainda com esse aplicativo pedi sugestões para o grupo de “Observadores de Aves da Serra Gaúcha” e eles indicaram dois contatos de órgãos públicos que poderiam ajudar.
Os dois contatos que recebi para pedir ajuda não responderam. Pois bem, resolvi visitar a família no outro dia e ver a situação de perto. Pedi que Andriele me mandasse sua localização e através do Google Maps pude ver onde a família está morando. O Google Maps é outro serviço de pesquisa da Google onde podemos visualizar mapas e rotas, encontrando facilmente os endereços procurados. Com a navegação por voz segui as dicas do melhor trajeto para chegar ao Parque dos Pinhais.
O Gabriel tem uma irmã chamada Kamily, ela estuda em outra escola, a Afonso Secco. O Gabriel vai ter mais um irmãozinho, Benjamin, pois sua mãe está grávida de 7 meses. Andriele me contou que seu marido tentou devolver o filhote ao ninho, na parte de cima da casa. Ele subiu por uma escada, mas não encontrou mais o ninho. Bom, os passarinhos pequenos passam por muitos perigos, assim nos conta Mírian Leitão no seu livro “A perigosa vida dos passarinhos pequenos”, é verdade, quando caem do ninho podem ser devorados por gatos, cachorros ou pisados. Muito triste. Se estiverem machucados morrem de infecção, mas o passarinho desse caso parecia estar bem. Kamily trouxe o filhote nas mãos cobertas com luvas felpudas, imitando um ninho! Andriele pediu para eu levar o filhote, pois não teria condições de cuidar, havia gato e cachorro na casa, grandes predadores de filhotes de pássaros!
Que responsabilidade e desafio! Descobri que existe uma papa especial para filhotes de aves. O bico do filhote abre muito para receber alimento, incrível! Na minha casa ele ficou num engradado de plástico, fiz um ninho de folhas secas e deixei um paninho também. O filhote tinha poucas penas, não conseguia se equilibrar direito. Ele ficava quietinho de dia, mas quando tinha fome vocalizava muito. Às 5 da manhã começava a piar alto, pedindo comida, bem como a Andriele me avisou. Quando o filhote começou a dar os primeiros pulinhos o colocamos numa das árvores na frente de casa, ficava paradinho, tentava voar e caía no chão, nessas horas estávamos atentos para colocá-lo de volta na árvore. Ficamos surpresos com uma ave adulta da mesma espécie que veio examiná-lo. Aí tivemos a certeza de que era um arapaçu! Concluimos que não poderia ser sua mãezinha, pois estávamos longe de onde ele veio. Essa ave examinou as peninhas do filhote e colocou algo dentro de seu bico. Ficamos escondidos observando, deu tempo de filmar a cena. Pensamos que se o filhote voasse iria embora com ela. Mas não foi isso que aconteceu, ela foi embora e ele ficou no mesmo lugar.
Depois de uma semana começamos a procurar minhocas para alimentá-lo também. Ficamos impressionados com a destreza de seu bico em devorar as minhocas. Ele dormiu no engradado somente na primeira semana. Depois que começou a voar observamos que ele dormia na vertical, com os pezinhos grudados na parede da caixa. Um dia não conseguimos trazê-lo para dormir na caixa, pois ele subiu bem alto num coqueiro. Foi sua primeira noite fora de casa. Ficamos muito aflitos, pois outro dia um tucano fez umas rasantes perto dele e tivemos que espantá-lo com medo que o devorasse.Ficamos mais preocupados ainda quando vimos que ele não se escondeu, mas estava bem à vista no tronco da palmeira! Algum bicho noturno poderia atacá-lo, na nossa mata tem corujas que caçam ratos.
No outro dia de manhã já estava vocalizando alto, pedindo comida. Que alívio, sobreviveu! Nunca mais dormiu dentro de casa. Outro dia ele voou longe, pensamos que tinha ido embora, ficamos tristes, mas sabíamos que isso iria acontecer um dia. Imagine nossa surpresa quando ele retornou, voou até a janela da cozinha e piou forte pedindo comida. Vimos que esse é o mundo dele, livre para ir e vir, não podemos interferir, apenas monitorar. Depois da noite dormida fora de casa parece que ele cresceu mais, as penas da cauda ficaram mais encorpadas. Faz 15 dias que estamos com ele. Dorme nas árvores, adora uma chuva, mas ainda nos procura para ganhar uma minhoca ou uma papinha. Criado solto, pois gaiola não é para quem tem asas. Estamos esperando que ele encontre uma turma, ou alguém da mesma espécie e saia por aí, sem depender de ninguém para se alimentar.
Lei de proteção da fauna silvestre. Art. 1º:
“Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.”
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